Questão 94 caderno amarelo ENEM 2025 Dia 2

Disciplina:

O bioma Cerrado é caracterizado por apresentar ampla e natural diversidade de espécies vegetais. Nos últimos tempos, o homem vem modificando esse cenário pela inserção de plantas exóticas nesse ambiente. Exemplo disso é o cultivo do capim-gordura, nativo do continente africano e utilizado nesse tipo de ecossistema como forma de pastagem. É importante ressaltar que essa espécie vegetal é capaz de se espalhar por grandes áreas, devido à sua agressividade e poder competitivo.

CARLOS JR., L. A.; BARBOSA, N. P. U.; FERNANDES, G. W.
O capim-gordura e as invasões no Cerrado brasileiro.
Jornal do Biólogo, mar.-jun. 2008 (adaptado).

Em longo prazo, essa ação do homem pode gerar qual consequência?

A) Diversificar nichos ecológicos.

B) Assorear as nascentes do bioma.

C) Dificultar a infiltração de água na terra.

D) Diminuir as espécies nativas do bioma.

E) Contribuir com a redução das queimadas.

✍ Resolução Em Texto


Matérias Necessárias para a Solução da Questão

  • Ecologia (Relações Ecológicas, Nicho Ecológico, Bioinvasão)
  • Dinâmica de Populações e Comunidades
  • Interpretação de Texto Científico

Tema/Objetivo Geral:
A questão avalia a compreensão sobre os impactos ecológicos da introdução de espécies exóticas invasoras em um ecossistema nativo, focando nas consequências a longo prazo para a biodiversidade local.

Nível da Questão: Fácil

  • A questão é considerada fácil porque o texto fornece todas as informações necessárias para a dedução lógica da resposta. Ele descreve a causa (introdução de uma planta exótica), o mecanismo (“agressividade e poder competitivo”) e pede a consequência mais direta desse cenário, que é um conceito central em ecologia de invasões.

Gabarito: D

  • Esta alternativa está correta porque a introdução de uma espécie exótica com alto poder competitivo, como o capim-gordura, leva à competição por recursos (luz, água, nutrientes). Por não ter predadores ou competidores naturais no novo ambiente, ela tende a dominar e suprimir as espécies nativas, levando a uma perda de biodiversidade local.

PASSO 1 – O QUE A QUESTÃO QUER? (O MAPA DA MINA)

Decodificação do Objetivo: A missão é prever o futuro ecológico do Cerrado. O texto nos informa que uma planta “estrangeira”, supercompetitiva, foi introduzida no bioma. Precisamos determinar qual será o impacto mais provável e significativo dessa “invasão” ao longo do tempo.

Simplificação Radical (A Analogia Central): Imagine que uma pequena vila de artesãos locais, onde cada um tem sua oficina e seus clientes, de repente recebe a instalação de uma única megafábrica que produz tudo mais rápido, em maior quantidade e de forma mais agressiva. Com o tempo, essa megafábrica começa a monopolizar os recursos, o espaço e os clientes, forçando os pequenos artesãos a fecharem suas oficinas. O que aconteceu com a diversidade de “produtos” e “produtores” na vila? Ela diminuiu drasticamente. A questão é: o que acontece com a “vila” do Cerrado quando a “megafábrica” (capim-gordura) chega?

Plano de Ataque (O Roteiro da Investigação):

  • Identificar o Agente da Mudança: Qual é a espécie introduzida e quais são suas características-chave?
  • Analisar o Mecanismo de Ação: Como exatamente essa espécie impacta o ambiente? O texto nos dá pistas.
  • Projetar o Efeito a Longo Prazo: Com base no mecanismo, qual é a consequência inevitável para as espécies que já viviam ali?
  • Avaliar as Alternativas: Confrontar nossa projeção com as opções fornecidas.

PASSO 2 – DESVENDANDO AS FERRAMENTAS (A CAIXA DE FERRAMENTAS)

Para entender o que está acontecendo, precisamos do conceito de Bioinvasão e do Princípio da Exclusão Competitiva. Vamos organizar isso em um fluxograma de raciocínio.

O Fluxograma da Bioinvasão

  1. Introdução: Uma espécie exótica (que não evoluiu naquele local) é inserida em um novo ecossistema.
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  2. Fuga dos Inimigos Naturais: No novo ambiente, a espécie não encontra os predadores, parasitas e doenças que controlavam sua população em seu local de origem.
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  3. Vantagem Competitiva: A espécie exótica, descrita como “agressiva e com poder competitivo”, começa a disputar recursos essenciais (água, luz solar, nutrientes do solo, espaço) com as espécies nativas.
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  4. Exclusão Competitiva (Princípio de Gause): Duas espécies competindo pelos mesmos recursos limitados não podem coexistir indefinidamente. A espécie mais competitiva eventualmente eliminará ou reduzirá drasticamente a população da outra.
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  5. Resultado a Longo Prazo: A espécie invasora se prolifera, formando monoculturas e levando a uma homogeneização da paisagem. A diversidade de espécies nativas (a riqueza biológica do ecossistema) diminui.

PASSO 3 – INTERPRETAÇÃO GUIADA (MÃO NA MASSA)

Vamos aplicar nosso fluxograma ao caso do capim-gordura no Cerrado.

  1. Agente: Capim-gordura (espécie exótica africana).
  2. Características-chave: “agressividade e poder competitivo”. Isso significa que ele cresce rápido, talvez sufoque outras plantas ou seja mais eficiente em absorver água e nutrientes.
  3. Mecanismo: Ele entra em competição direta com as plantas nativas do Cerrado. Como ele não tem os “freios” naturais de seu continente de origem e é um competidor superior, ele tem uma enorme vantagem.
  4. Projeção: A longo prazo, essa vantagem competitiva levará o capim-gordura a ocupar o espaço e os recursos que antes eram utilizados por uma variedade de plantas nativas. A consequência lógica é que essas plantas nativas, incapazes de competir, terão suas populações reduzidas, podendo até ser extintas localmente.

🚨 ARMADILHA CLÁSSICA! 🚨
O erro mais comum aqui é uma interpretação superficial ou otimista. Um aluno pode pensar que adicionar uma nova espécie “diversifica” o ambiente. Essa é a armadilha de confundir “adição” com “diversificação”. Adicionar um único tijolo a uma parede de mosaicos coloridos não a diversifica; se esse tijolo se multiplicar e cobrir todos os outros, ele homogeneíza a parede. A chave está nas palavras “agressividade e poder competitivo”, que sinalizam um desequilíbrio, não um acréscimo harmonioso.

  • A Bússola (O Perfil do Culpado):
    • Síntese do raciocínio: A introdução de um competidor superior em um sistema estável leva, pelo princípio da exclusão competitiva, a um declínio das espécies menos competitivas.
    • Expectativa: A alternativa correta deve descrever uma consequência negativa para a biodiversidade existente, ou seja, uma redução no número ou na abundância das espécies originais do Cerrado.

PASSO 4 – ALTERNATIVAS COMENTADAS (A AUTÓPSIA)

  • A) Diversificar nichos ecológicos.
    • Análise Conceitual: Nicho ecológico é o “papel” ou “profissão” de uma espécie no ecossistema (o que ela come, onde vive, etc.). A introdução de uma espécie invasora que domina os recursos não cria novos nichos; pelo contrário, ela sobrepõe e elimina os nichos das espécies nativas, simplificando a estrutura da comunidade.
    • O “Diagnóstico do Erro”: Contradição Direta. A ação descrita leva à homogeneização, o oposto da diversificação.
    • Conclusão: ❌ Alternativa incorreta.
  • B) Assorear as nascentes do bioma.
    • Análise Conceitual: Assoreamento é o acúmulo de sedimentos em corpos d’água, geralmente causado pela erosão do solo exposto. Embora a mudança na cobertura vegetal possa influenciar a erosão, esta não é a consequência primária e garantida da introdução do capim. De fato, uma pastagem densa poderia, em alguns casos, até ajudar a segurar o solo.
    • O “Diagnóstico do Erro”: Efeito Indireto e Não Garantido. É uma possível consequência secundária, mas não o impacto mais direto e inevitável descrito.
    • Conclusão: ❌ Alternativa incorreta.
  • C) Dificultar a infiltração de água na terra.
    • Análise Conceitual: A infiltração de água depende da estrutura do solo e da cobertura vegetal. Uma pastagem densa e de raízes superficiais, como muitos capins, pode de fato compactar o solo e criar uma camada que dificulta a infiltração, aumentando o escoamento superficial.
    • O “Diagnóstico do Erro”: Efeito Plausível, mas não Principal. Assim como o assoreamento, este é um impacto biofísico possível, mas a consequência ecológica mais fundamental e direta da competição biológica é a perda de biodiversidade.
    • Conclusão: ❌ Alternativa incorreta.
  • D) Diminuir as espécies nativas do bioma.
    • Análise de Correspondência: Esta alternativa descreve com precisão o resultado do Princípio da Exclusão Competitiva. O capim “agressivo” vence a competição por recursos, levando ao declínio populacional das plantas nativas que ocupavam aquele espaço. Alinha-se perfeitamente com nossa Bússola.
    • Conclusão: ✔️ Alternativa correta.
  • E) Contribuir com a redução das queimadas.
    • Análise Conceitual: Muitos capins exóticos, especialmente os africanos, são na verdade adaptados ao fogo e acumulam uma grande quantidade de biomassa seca, que funciona como um combustível altamente inflamável. A presença do capim-gordura, na realidade, aumenta a frequência e a intensidade dos incêndios no Cerrado, criando um ciclo vicioso que favorece ainda mais o capim em detrimento das plantas nativas.
    • O “Diagnóstico do Erro”: Contradição Direta com o Conhecimento Ecológico. A premissa da alternativa é factualmente oposta ao que ocorre na realidade.
    • Conclusão: ❌ Alternativa incorreta.

5 – O GRAND FINALE (APRENDIZAGEM EXPANDIDA)

  • Frase de Fechamento: A resposta correta é diminuir as espécies nativas do bioma, pois a introdução de um competidor exótico superior quebra o equilíbrio ecológico, resultando em uma perda de biodiversidade através da exclusão competitiva.
  • Resumo-flash (A Imagem Mental): Introduzir uma espécie invasora não é somar, é substituir.
  • 🧠 Para ir Além (A Ponte para o Futuro): O mesmo princípio da bioinvasão se aplica à economia e tecnologia. Pense na chegada de um aplicativo de transporte em uma cidade que antes só tinha táxis. O aplicativo (espécie exótica) chega sem os “predadores” (regulações e custos operacionais dos táxis), com um “poder competitivo” superior (preço, conveniência). A longo prazo, ele não apenas “convive” com o sistema antigo, mas o domina, levando à “diminuição da espécie nativa” (a frota de táxis). A lógica da disrupção por um agente mais competitivo é um padrão universal, da ecologia do Cerrado à economia digital.
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