Questão 83 caderno azul ENEM 2025 Dia 1

Disciplina:

A Impressão Régia do Rio de Janeiro foi criada pelo decreto de 13 de maio de 1808 para dar continuidade à nova sede do império português. A nova tipografia é criada em um momento no qual o projeto de reforma do império se transforma em um projeto de construção de um novo império português na América. Frente às tensões políticas que essa nova situação criava, a tipografia atuou na legitimação e sustentação daquele projeto político.

BARRA, S. H. S. A Impressão Régia do Rio de Janeiro e a colonização dos sertões na construção do novo império português na América (1808-1822). Topoi, n. 31, jul.-dez. 2015 (adaptado).

A função política da tecnologia mencionada no texto favoreceu a nova sede do Império português por

A) estabelecer as normativas ideológicas aos periódicos.

B) propagar as diretrizes administrativas às capitanias.

C) divulgar as conquistas às metrópoles europeias.

D) integrar as regiões territoriais ao poder central.

E) difundir as publicações às elites lusitanas.

✍ Resolução Em Texto

  • Matérias Necessárias para a Solução da Questão:
    • História do Brasil (Período Joanino, Vinda da Família Real)
    • Ciência Política (Construção do Estado, Centralização do Poder, Legitimidade)
    • História da Comunicação (Papel da Imprensa)
    • Interpretação de Texto
  • Tema/Objetivo Geral: Compreender o papel da Imprensa Régia como uma ferramenta estratégica para a centralização administrativa e a consolidação do poder da coroa portuguesa no Brasil, transformando a colônia na nova sede do império.
  • Nível da Questão: Difícil.
    • A questão é extremamente sutil. Ela exige que o candidato não apenas entenda o texto, mas hierarquize as funções políticas. Várias alternativas (especialmente A, B e D) descrevem ações que a Imprensa Régia de fato realizava. O desafio é identificar qual delas representa o objetivo político final e mais abrangente, e não apenas um dos meios para alcançá-lo.
  • Gabarito: D
    • A alternativa está correta porque a função política mais essencial da Imprensa Régia, no contexto da “construção de um novo império” em um território vasto e fragmentado como o Brasil, era servir como a voz do poder central (Rio de Janeiro) para unificar e controlar as diversas e distantes regiões, ou seja, integrá-las.

PASSO 1 – O QUE A QUESTÃO QUER? (O MAPA DA MINA)

Decodificação do Objetivo: Em bom português, a missão é: “A corte portuguesa se mudou para o Rio e criou uma gráfica oficial. Olhando para o desafio de ‘construir um novo império’ no Brasil, qual era a principal função política dessa gráfica para o novo governo?”

Simplificação Radical (A Analogia Central): Imagine que uma grande empresa multinacional move sua sede mundial de Nova York para uma filial remota e gigantesca no interior da Amazônia. O primeiro grande desafio do novo CEO não é apenas decorar o escritório, mas garantir que todas as sub-filiais espalhadas por aquele vasto território (as “capitanias”) saibam que o chefe agora está ali, e que todas as ordens, regras e a cultura da empresa passarão a emanar daquele novo centro. A Imprensa Régia foi o sistema de e-mail e memorandos oficiais dessa nova sede. Sua principal função política era conectar todas as partes ao novo cérebro da operação, garantindo que a empresa funcionasse como um corpo unificado, e não como um conjunto de feudos.

Plano de Ataque (O Roteiro da Investigação):

  • Analisar o Cenário Político: Qual era o principal problema que a corte portuguesa enfrentava ao transformar o Rio de Janeiro na nova capital do império?
  • Identificar a Ferramenta: Qual o papel de uma “tipografia” (imprensa) nesse cenário?
  • Conectar Ferramenta e Problema: Como a ferramenta ajuda a resolver o problema político principal?
  • Realizar a Autópsia: Vamos analisar cada alternativa para ver qual delas descreve o objetivo estratégico mais amplo, e não apenas uma tarefa operacional.

PASSO 2 – DESVENDANDO AS FERRAMENTAS (A CAIXA DE FERRAMENTAS)

Para este caso, a melhor ferramenta é um Dossiê sobre o “Projeto Político”. Ele nos ajudará a entender a magnitude do desafio que a Imprensa Régia foi criada para enfrentar.

DOSSIÊ: O PROJETO DE UM NOVO IMPÉRIO (BRASIL, 1808)

  • O Desafio Central: Transformar uma colônia gigantesca, fragmentada e com centros de poder regionais (as capitanias) em um império unificado e funcional, com um poder central claro e inquestionável no Rio de Janeiro.
  • O Principal Obstáculo: A distância e o isolamento das províncias. Como fazer a autoridade do rei no Rio ser sentida e obedecida em Pernambuco, no Grão-Pará ou no Rio Grande do Sul?
  • A Necessidade Política: INTEGRAÇÃO. O projeto só funcionaria se as diversas “partes” do Brasil passassem a se enxergar e a operar como componentes de um único corpo político, respondendo a uma única cabeça (o monarca no Rio).
  • O Papel da Imprensa Régia: Ser o sistema nervoso central desse novo corpo. Era o canal pelo qual os “comandos do cérebro” (leis, decretos, ordens, nomeações) chegariam a todas as partes do corpo de forma padronizada e oficial, “legitimando e sustentando” o poder central.

Conclusão Forense: A função política primordial da imprensa não era apenas “falar”, mas “conectar” e “unificar”. Sua missão era combater a fragmentação e promover a integração territorial sob um poder centralizado.


PASSO 3 – INTERPRETAÇÃO GUIADA (MÃO NA MASSA)

Nosso dossiê já deixou a lógica clara. O problema era a fragmentação. A solução era a centralização. A ferramenta era a comunicação oficial.

O texto diz que a tipografia atuou na “legitimação e sustentação daquele projeto político”. Qual era o projeto? “A construção de um novo império português na América”. Construir um império em um território como o Brasil significa, antes de tudo, integrar suas vastas e isoladas regiões sob uma única autoridade.

  • Propagar diretrizes (B) e estabelecer normativas ideológicas (A) são meios para se alcançar a integração. São as ações que a imprensa faz.
  • integração (D) é o resultado político estratégico desejado. É o “porquê” de tudo isso.

🚨 ARMADILHA CLÁSSICA! 🚨

CUIDADO! A alternativa (A) é a distratora mais poderosa. É verdade que a Imprensa Régia servia para difundir a ideologia da monarquia. No entanto, essa é uma descrição do conteúdo e da função ideológica. A questão pergunta sobre a função política no contexto do desafio de “construção do novo império”. A tarefa política mais urgente e fundamental não era apenas convencer as mentes, mas sim estabelecer o controle administrativo sobre um território. A ideologia era uma ferramenta para facilitar a integração política e territorial, que era o objetivo maior.

A Bússola (O Perfil do Culpado):

  • Síntese do raciocínio: A investigação revela que o principal desafio político da coroa no Brasil era superar a fragmentação colonial e unificar o território sob o novo poder central no Rio de Janeiro. A Imprensa Régia foi a ferramenta-chave para essa tarefa.
  • Expectativa: A alternativa correta deve descrever essa função de unificação e centralização, ou seja, a integração do território ao poder central.

PASSO 4 – ALTERNATIVAS COMENTADAS (A AUTÓPSIA)

Vamos agora submeter cada alternativa ao nosso rigoroso interrogatório.

  • A) estabelecer as normativas ideológicas aos periódicos.
    • A “Narrativa do Erro”: O candidato foca na palavra “legitimação” e a associa corretamente com “ideologia”.
    • O “Diagnóstico do Erro”: Reducionismo (Descreve o Meio, não o Fim Político Maior). Esta é a armadilha. Estabelecer a ideologia do regime era, sem dúvida, uma função da Imprensa. Mas para quê? O objetivo político final era usar essa ideologia como cimento para unir as diferentes partes do império. A integração (D) é o objetivo estratégico; a normatização ideológica (A) é uma das táticas para alcançá-lo.
    • Análise Contextual (Como poderia estar certa?): A alternativa se tornaria a melhor resposta se o contexto apresentado no texto fosse diferente. Imagine que o texto dissesse algo como: “Com a chegada da corte, surgiram no Brasil diversos pequenos jornais e panfletos com ideais republicanos e iluministas, que ameaçavam a estabilidade da monarquia. Frente a essa guerra de narrativas, a Imprensa Régia foi criada para atuar como o principal bastião da ideologia real, estabelecendo as normativas e a visão de mundo correta para suplantar as ideias subversivas que circulavam em outros periódicos.”
      Nesse cenário, o desafio principal não seria administrativo/territorial, mas uma batalha de ideias. A função política mais urgente da imprensa seria, então, a de controle ideológico, tornando a alternativa (A) a mais precisa.
    • Conclusão: 🔴 Alternativa incorreta.
  • B) propagar as diretrizes administrativas às capitanias.
    • A “Narrativa do Erro”: O candidato foca no aspecto prático da comunicação do governo.
    • O “Diagnóstico do Erro”: Reducionismo (Descreve a Ação, não o Objetivo Estratégico). Similar à alternativa A, esta descreve o “o quê” a imprensa fazia (publicar ordens), mas não o “porquê” político em um nível mais amplo. A propagação de diretrizes era o mecanismo para efetivar a integração.
    • Conclusão: 🔴 Alternativa incorreta.
  • C) divulgar as conquistas às metrópoles europeias.
    • A “Narrativa do Erro”: O candidato pensa em propaganda internacional.
    • O “Diagnóstico do Erro”: Fuga ao Tema. O texto é claro: o projeto era a “construção de um novo império português na América“. O foco da comunicação era interno, para consolidar o poder dentro do Brasil, e não externo.
    • Conclusão: 🔴 Alternativa incorreta.
  • D) integrar as regiões territoriais ao poder central.
    • Análise de Correspondência: Esta alternativa é o retrato falado da nossa Bússola. Ela descreve o principal desafio e, portanto, a principal função política da imprensa naquele contexto: conectar as partes (regiões) ao todo (poder central), superando a fragmentação para “construir um novo império”.
    • Conclusão: 🟢 Alternativa correta.
  • E) difundir as publicações às elites lusitanas.
    • A “Narrativa do Erro”: O candidato pensa no público leitor da época.
    • O “Diagnóstico do Erro”: Reducionismo. Embora as elites fossem um público importante, a função política era muito mais ampla do que simplesmente informá-las. O objetivo era usar essa comunicação para governar e unificar todo o território, o que ia além de um grupo específico.
    • Conclusão: 🔴 Alternativa incorreta.

PASSO 5 – O GRAND FINALE (APRENDIZAGEM EXPANDIDA)

Frase de Fechamento: Confirmamos que a alternativa D é a correta, pois ela captura a dimensão estratégica e fundamental da Imprensa Régia como uma tecnologia de governança, essencial para transformar uma colônia fragmentada na sede coesa de um império.

Resumo-flash (A Imagem Mental): A Imprensa Régia foi o primeiro “Diário Oficial da União” do Brasil, a ferramenta que transformou ordens do Rio de Janeiro em realidade em todo o vasto território.

Para ir Além (A Ponte para o Futuro): O mesmo princípio de usar a comunicação centralizada para integrar territórios foi fundamental na expansão das ferrovias nos Estados Unidos no século XIX. A construção de ferrovias transcontinentais não foi apenas um projeto de transporte de mercadorias. Foi um projeto político de “impressão” da autoridade do governo federal de Washington sobre os territórios do Oeste, conectando-os física, econômica e administrativamente ao poder central e consolidando a nação de costa a costa. A tecnologia (a ferrovia, a imprensa) serve como a infraestrutura física ou informacional para a integração política.

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