TEXTO I
Eu escolhi Bezalel e lhe dei competência e habilidade para fazer todo tipo de trabalho artístico; para fazer desenhos e trabalhar em ouro, prata e bronze; para lapidar e montar pedras preciosas; para entalhar madeira; e para fazer todo tipo de artesanato.
BÍBLIA. Êxodo 31, 2-5. São Paulo: Paulinas, 2005.
TEXTO II
Moisés foi educado em toda a sabedoria dos egípcios e veio a ser poderoso em palavras e obras.
BÍBLIA. Atos 7, 22. São Paulo: Paulinas, 2005.
TEXTO III
Se conhecêsseis a ciência certa, logo renunciaríeis à ostentação.
ALCORÃO. Sura 102, 5. São Paulo: Tangará, 1975.
Escritos em temporalidades diferentes (Antiguidade e Idade Média), os textos sagrados aproximam-se ao mostrar o papel da ciência para o(a)
A) emergência das universidades e escolas confessionais.
B) crescimento religioso e movimentos sectários.
C) avanço da intolerância e rivalidades nacionais.
D) preservação das tradições e rituais místicos.
E) desenvolvimento social e práticas laborais.
✍ Resolução Em Texto
- Matérias Necessárias para a Solução da Questão:
- Interpretação de Textos Históricos e Religiosos
- História das Ideias (Conceito de Ciência/Sabedoria na Antiguidade e Medievo)
- Filosofia (Epistemologia, Ética)
- Tema/Objetivo Geral: Identificar a função pragmática e social do conhecimento (“ciência” ou “sabedoria”) em diferentes tradições religiosas, conforme apresentado nos textos.
- Nível da Questão: Médio.
- A dificuldade reside em interpretar o termo “ciência” em seu sentido pré-moderno, que abrange habilidade técnica, sabedoria e conhecimento prático, e não apenas o método científico experimental. O candidato precisa sintetizar três exemplos distintos — um técnico, um de liderança e um moral — sob um único conceito abrangente.
- Gabarito: E
- A alternativa está correta porque os três textos, cada um à sua maneira, apresentam o conhecimento não como um fim em si mesmo, mas como uma ferramenta prática que capacita para o trabalho (“práticas laborais”) e para a melhoria da vida em sociedade (“desenvolvimento social”).
PASSO 1 – O QUE A QUESTÃO QUER? (O MAPA DA MINA)
Decodificação do Objetivo: Em bom português, a missão é: “Temos três textos antigos de religiões diferentes que falam sobre ‘ciência’ ou ‘sabedoria’. Apesar de suas diferenças, o que eles têm em comum sobre a utilidade ou o propósito do conhecimento para a vida humana e a sociedade?”
Simplificação Radical (A Analogia Central): Imagine o conhecimento (‘ciência’, ‘sabedoria’) não como um livro em uma prateleira, mas como uma caixa de ferramentas divina ou fundamental. O Texto I descreve as ferramentas para um artesão construir coisas. O Texto II descreve as ferramentas para um líder governar e agir. O Texto III descreve a ferramenta para a sociedade se autoaperfeiçoar moralmente. A questão nos pede para identificar o propósito comum a todas essas ferramentas. Elas servem para contemplação abstrata ou para construir, agir e melhorar o mundo prático?
Plano de Ataque (O Roteiro da Investigação):
- Analisar as Evidências: Vamos criar uma tabela para dissecar cada texto, identificando o tipo de “ciência” e sua aplicação.
- Sintetizar o Padrão: Vamos analisar a tabela para encontrar a função comum do conhecimento em todos os casos.
- Construir o Retrato Falado: Com base no padrão, vamos definir o que a alternativa correta deve afirmar.
- Realizar a Autópsia: Vamos analisar cada alternativa para ver qual delas corresponde ao nosso retrato falado.
PASSO 2 – DESVENDANDO AS FERRAMENTAS (A CAIXA DE FERRAMENTAS)
Para este caso, a melhor ferramenta é uma Tabela de Análise Comparativa. Ela nos permitirá decompor cada texto e, em seguida, comparar os resultados lado a lado para encontrar o ponto de convergência.
| Fonte da Evidência | Tipo de “Ciência” / Conhecimento | Aplicação / Função Descrita no Texto | Conclusão Parcial |
| Texto I (Êxodo) | Conhecimento técnico e artístico (“competência e habilidade”). | Realizar “todo tipo de artesanato” e “trabalho artístico”. | O conhecimento serve para as práticas laborais (trabalho). |
| Texto II (Atos) | Conhecimento intelectual e prático (“sabedoria dos egípcios”). | Capacitar um líder a ser “poderoso em palavras e obras”. | O conhecimento serve para a ação social e a liderança. |
| Texto III (Alcorão) | Conhecimento moral e espiritual (“ciência certa”). | Levar as pessoas a “renunciar à ostentação”. | O conhecimento serve para o aprimoramento social e moral. |
Conclusão Forense da Tabela: A investigação comparativa revela um padrão claro. Em todos os três casos, o conhecimento não é um fim em si mesmo. É uma força ativa e prática que capacita as pessoas a trabalhar (Texto I), a liderar (Texto II) e a viver melhor em comunidade (Texto III). O fio comum é a aplicação do saber para o aprimoramento da vida prática e social.
PASSO 3 – INTERPRETAÇÃO GUIADA (MÃO NA MASSA)
Nossa análise comparativa na tabela já nos deu a resposta. O ponto de encontro dos três textos é a visão do conhecimento como uma força prática e transformadora, que capacita o indivíduo para o trabalho e aprimora a vida em comunidade.
- O Êxodo valoriza o saber-fazer.
- Os Atos valorizam o saber-agir.
- O Alcorão valoriza o saber-ser (em sociedade).
Juntos, eles mostram que o conhecimento é essencial para as atividades produtivas e para o bom funcionamento e aprimoramento da sociedade.
🚨 ARMADILHA CLÁSSICA! 🚨
CUIDADO! A principal armadilha aqui é interpretar “ciência” com o nosso olhar do século XXI, pensando em laboratórios, método experimental e neutralidade. O erro é não perceber que, nos textos, “ciência” e “sabedoria” são termos amplos para conhecimento e habilidade, e estão profundamente ligados a um propósito prático, social ou moral, e não separados dele.
A Bússola (O Perfil do Culpado):
- Síntese do raciocínio: A investigação dos três textos mostra que, em contextos e de formas diferentes, eles apresentam o conhecimento como um instrumento fundamental para a ação prática, seja no trabalho manual, na liderança política ou na conduta moral da sociedade.
- Expectativa: A alternativa correta deve ser aquela que melhor sintetiza essa função prática e social do conhecimento, abrangendo tanto o mundo do trabalho quanto o da vida em comunidade.
PASSO 4 – ALTERNATIVAS COMENTADAS (A AUTÓPSIA)
Vamos agora confrontar cada suspeito com as conclusões da nossa investigação.
- A) emergência das universidades e escolas confessionais.
- A “Narrativa do Erro”: O candidato associa “conhecimento” com “escola”.
- O “Diagnóstico do Erro”: Anacronismo. As universidades são uma criação da Idade Média posterior, e o conceito não se aplica ao contexto do Êxodo ou dos egípcios. O texto não fala sobre a institucionalização do ensino.
- Conclusão: 🔴 Alternativa incorreta.
- B) crescimento religioso e movimentos sectários.
- A “Narrativa do Erro”: O candidato foca no fato de que os textos são religiosos.
- O “Diagnóstico do Erro”: Reducionismo. Embora o contexto seja religioso, a aplicação do conhecimento descrita nos textos é prática e social (construir, liderar, viver melhor em sociedade), não se limitando a questões de proselitismo ou “crescimento religioso”.
- Conclusão: 🔴 Alternativa incorreta.
- C) avanço da intolerância e rivalidades nacionais.
- A “Narrativa do Erro”: Uma leitura cínica da religião ou uma confusão total.
- O “Diagnóstico do Erro”: Contradição Direta. Nos três textos, o conhecimento é apresentado como uma força positiva e construtiva, o oposto de algo que promove intolerância.
- Conclusão: 🔴 Alternativa incorreta.
- D) preservação das tradições e rituais místicos.
- A “Narrativa do Erro”: O candidato associa “religião” com “tradição” e “ritual”.
- O “Diagnóstico do Erro”: Foco Incorreto. Os textos não enfatizam a preservação do passado. Pelo contrário, eles mostram o conhecimento como uma força ativa e dinâmica para agir no presente: construir coisas novas (Texto I), liderar o povo (Texto II) e mudar o comportamento (Texto III).
- Análise Contextual: A alternativa se tornaria a resposta correta se os textos sagrados escolhidos enfatizassem o conhecimento como uma ferramenta para a manutenção do passado, em vez de uma força para a ação no presente. Se os trechos descrevessem a “sabedoria” como o dever de memorizar rituais antigos (como no Levítico), recitar hinos sem erro (como nos Vedas) ou recontar as histórias dos ancestrais (como na tradição dos griôs africanos), então o papel da ciência seria claramente o de preservar a tradição, e não o de promover o desenvolvimento ou o trabalho, alinhando-se à lógica da alternativa (D).
- Conclusão: 🟡 Alternativa incorreta.
- E) desenvolvimento social e práticas laborais.
- Análise de Correspondência: Esta alternativa é o retrato falado da nossa Bússola. “Práticas laborais” (trabalho, artesanato) captura perfeitamente a essência do Texto I. “Desenvolvimento social” (capacitar líderes, aprimorar a moral da comunidade) captura perfeitamente a essência dos Textos II e III. É a única opção que abrange todos os exemplos.
- Conclusão: 🟢 Alternativa correta.
PASSO 5 – O GRAND FINALE (APRENDIZAGEM EXPANDIDA)
Frase de Fechamento: Confirmamos que a alternativa E é a correta. Este caso revela uma surpreendente convergência entre diferentes escrituras sagradas: a visão do conhecimento não como posse, mas como potência; uma força que deve ser aplicada para construir, organizar e aprimorar a vida humana.
Resumo-flash (A Imagem Mental): Nos textos sagrados, a sabedoria não é uma coroa para se exibir, mas um martelo para se construir.
Para ir Além (A Ponte para o Futuro): O mesmo princípio de que o conhecimento só tem valor quando aplicado para o desenvolvimento social é a base do pragmatismo, uma escola filosófica moderna associada a pensadores como John Dewey. Dewey defendia que a educação não deveria ser sobre memorizar fatos abstratos, mas sobre “aprender fazendo” (learning by doing). Para ele, as ideias e a ciência são instrumentos que os seres humanos desenvolvem para resolver problemas práticos e melhorar a vida em comunidade. A visão de Dewey sobre a educação, que influenciou profundamente a pedagogia do século XX, ecoa, de forma secular, a mesma ênfase na aplicação prática do conhecimento que encontramos nesses textos antigos.
