Em 1914, uma expedição estudantil saiu da Rússia em direção à América do Sul, sendo considerada a segunda campanha científica da Rússia no continente depois da longa viagem do barão Langsdorff pelo interior do Brasil na primeira metade do século XIX. O empreendimento foi enviado pelo Museu de Antropologia e Etnografia de São Petersburgo e integrado por cinco jovens cientistas, sendo dois zoólogos, dois etnógrafos e um antropólogo, cujo objetivo era a coleta de material de valor biológico e etnográfico para compor coleções nas instituições que participaram de seu financiamento. A expedição passou por países como Brasil, Paraguai e Argentina, resultando em amplo material manuscrito e algumas publicações, além dos objetos coletados.
CARNEIRO, L. A. F. A Rússia no Brasil do início do século XX. Rio de Janeiro: Casa de Oswaldo Cruz, 2015 (adaptado).
Além do significado científico, o evento mencionado conectava-se a um projeto nacionalista de caráter
A) imperialista e colonizador.
B) militar e disciplinador.
C) lúdico e filantrópico.
D) mercantil e predatório.
E) religioso e humanitário.
✍ Resolução Em Texto
- Matérias Necessárias para a Solução da Questão:
- História (Era do Imperialismo, Nacionalismo, História da Ciência, Império Russo)
- Geopolítica (Soft Power)
- Interpretação de Texto
- Tema/Objetivo Geral: Compreender como expedições científicas no início do século XX funcionavam como instrumentos de afirmação nacional e projeção de poder, indo além de seus objetivos puramente acadêmicos.
- Nível da Questão: Médio.
- A questão exige a interpretação do contexto geopolítico de 1914, que está implícito, e não explícito no texto. No entanto, é possível chegar à resposta correta por um processo de eliminação, descartando as alternativas que são claramente contraditórias ou não relacionadas ao texto, mesmo sem um conhecimento profundo sobre o nacionalismo russo.
- Gabarito: A – Imperialista e colonizador.
1️⃣ PASSO 1 – O QUE A QUESTÃO QUER? (O MAPA DA MINA)
O Objetivo: Identificar a ideologia política e o interesse nacional que motivavam as grandes potências (como a Rússia) a enviar expedições científicas para países distantes no início do século XX.
A Simplificação Radical (A Analogia Central):
Imagine que a ciência nessa época era como uma Corrida Espacial ou uma Coleção de Figurinhas.
Quem tinha o museu mais cheio, com as coisas mais raras dos lugares mais distantes, provava que era a nação mais poderosa, culta e dominante. Não era apenas “estudar”, era dizer: “Nós temos a capacidade de ir até lá, catalogar e trazer para casa. O mundo é nosso laboratório”.
Nosso Plano de Ataque:
- Contextualizar a Rússia de 1914 (Império Russo).
- Traduzir o significado de “Museu de Antropologia” naquele contexto.
- Ligar a coleta de objetos estrangeiros ao conceito de dominação.
2️⃣ PASSO 2 – DESVENDANDO AS FERRAMENTAS (A CAIXA DE FERRAMENTAS)
Vamos usar o TRADUTOR UNIVERSAL para decodificar o termo “Expedição Científica” na Era dos Impérios.
🗣️ FERRAMENTA: O TRADUTOR GEOPOLÍTICO (Ciência é Poder)
- O Termo: Expedição para compor coleções de Museus Nacionais.
- A Tradução Real: Imperialismo Científico.
- Como funciona: As grandes potências (Europa/Rússia/EUA) acreditavam que era seu direito e dever catalogar o mundo. Levar artefatos indígenas (etnografia) e animais (zoologia) para a metrópole era uma forma de posse simbólica.
- A Lógica: “Se eu classifico, eu domino”. Conhecer o território alheio melhor que os próprios nativos é uma ferramenta de colonização cultural e estratégica.
3️⃣ PASSO 3 – INTERPRETAÇÃO GUIADA (MÃO NA MASSA)
Vamos aplicar nossa ferramenta ao caso russo:
- O texto diz que a expedição foi enviada pelo Museu de São Petersburgo (a capital imperial).
- O objetivo era “compor coleções”. Ou seja, tirar do Brasil/Paraguai e levar para a Rússia.
- No século XIX e início do XX, o nacionalismo se alimentava da ideia de grandeza. Ter um museu rico significava ser uma nação civilizada que “explicava” os povos “primitivos” ou a natureza “selvagem”.
- Esse comportamento reflete a mentalidade Imperialista: a expansão da influência de uma nação sobre outras, usando a ciência como ponta de lança para conhecer (e potencialmente explorar) recursos e culturas.
- É uma forma de colonização do saber: o centro (Rússia) extrai o conhecimento da periferia (América do Sul).
🚨 PONTO DE ATENÇÃO! 🚨
CUIDADO com a alternativa D (Mercantil)!
É tentador pensar em “roubo de riquezas” e marcar “Mercantil e Predatório”.
Mas observe: eles eram estudantes e cientistas, não comerciantes. O objetivo final não era vender as borboletas no mercado, mas sim exibi-las em instituições (museus/universidades) para prestígio nacional. Embora seja predatório (tirar daqui), o projeto é de poder e prestígio (Imperialismo), não de lucro imediato (Mercantilismo).
A Bússola (O Perfil do Culpado):
- Síntese: A ciência servia para expandir a influência e o prestígio da nação sobre territórios estrangeiros.
- Expectativa: A resposta deve conter termos ligados a Imperialismo, Colonização ou Dominação.
4️⃣ PASSO 4 – ALTERNATIVAS COMENTADAS (A AUTÓPSIA)
Vamos analisar os suspeitos:
- A) imperialista e colonizador.
- Análise de Correspondência: Perfeito. As missões científicas eram braços do projeto imperialista. Elas mapeavam recursos, catalogavam povos e afirmavam a superioridade intelectual da metrópole sobre as colônias ou países periféricos. É a “conquista pelo conhecimento”.
- Conclusão: ✔️ Alternativa correta.
- B) militar e disciplinador.
- O Diagnóstico do Erro (Fuga ao Tema): A expedição era de estudantes e cientistas (zoólogos, etnógrafos), não de soldados. Não havia objetivo de disciplinar a população local ou ocupar militarmente o território naquele momento.
- Conclusão: ❌ Alternativa incorreta.
- C) lúdico e filantrópico.
- O Diagnóstico do Erro (Contradição Direta): “Lúdico” é brincadeira; “Filantrópico” é caridade. Eles não vieram passear nem dar dinheiro aos pobres. Vieram extrair material.
- Conclusão: ❌ Alternativa incorreta.
- D) mercantil e predatório.
- O Diagnóstico do Erro (Refinamento Conceitual): “Predatório” até cabe (coleta sem repor), mas “Mercantil” sugere comércio/lucro financeiro direto. O texto fala em “instituições” e “coleções”, o que remete ao capital simbólico e científico (prestígio do Estado), não ao capital financeiro de mercadores.
- Conclusão: ❌ Alternativa incorreta.
- E) religioso e humanitário.
- O Diagnóstico do Erro (Agente Errado): Não eram missionários nem médicos humanitários. Eram cientistas buscando objetos, não salvando almas ou vidas.
- Conclusão: ❌ Alternativa incorreta.
5️⃣ PASSO 5 – O GRAND FINALE
Gabarito: Letra A.
O Conceito Central: Imperialismo Científico. O uso da ciência, museus e expedições como ferramentas de “Soft Power” para projetar poder nacional e apropriar-se do conhecimento global.
Resumo-flash: 📸
“Quem cataloga o mundo, diz que é dono dele. O Museu é a vitrine do Império.”
🧠 Para ir Além: Indiana Jones e a Arqueologia Real.
Lembra dos filmes do Indiana Jones? Ele sempre diz: “Isso pertence a um museu!”.
Na vida real, essa frase é pura ideologia imperialista. Por que a múmia do Egito tem que estar no Museu britânico ou alemão, e não no Egito? Porque no século XIX/XX, acreditava-se que só as potências imperiais tinham “competência” para guardar a história do mundo. A expedição russa no Brasil seguia essa mesma lógica.
