O sashimi (filé de peixe cru) de baiacu é uma iguaria muito apreciada no Japão. Entretanto, sua ingestão pode causar a morte por parada respiratória, pois esse peixe contém uma potente neurotoxina termoestável, a tetrodotoxina, que é produzida e armazenada nas gônadas e vísceras.
Que ação poderia evitar essa intoxicação?
A) Criar os peixes em cativeiro.
B) Realizar a pesca com redes.
C) Consumir peixes cozidos ou fritos.
D) Preparar o peixe em condições adequadas de higiene.
E) Manusear o peixe sem provocar o rompimento dos órgãos internos.
✍ Resolução Em Texto
Matérias Necessárias para a Solução da Questão
- Biologia (Toxicologia, Anatomia de Peixes)
- Química (Propriedades de Moléculas, Termoestabilidade)
- Interpretação de Texto
Tema/Objetivo Geral:
A questão avalia a capacidade de identificar uma medida de prevenção eficaz com base na localização e nas propriedades da toxina descrita no texto.
Nível da Questão: Fácil
- A questão é considerada fácil porque o enunciado fornece explicitamente as duas informações cruciais para a sua resolução: 1) a localização da toxina (“gônadas e vísceras”) e 2) sua principal propriedade química (“termoestável”). A resposta correta é uma dedução direta da combinação dessas duas pistas.
Gabarito: E
- Esta alternativa está correta pois, uma vez que a toxina está confinada em órgãos internos específicos, a única maneira segura de consumir a carne (músculo) do peixe é garantir que esses órgãos não sejam danificados durante o preparo, evitando assim a contaminação da parte comestível.
PASSO 1 – O QUE A QUESTÃO QUER? (O MAPA DA MINA)
Decodificação do Objetivo:
A missão é encontrar o procedimento de segurança crucial que permite consumir um alimento potencialmente mortal. O texto nos diz onde está o “veneno” e uma de suas propriedades. Precisamos usar essas informações para definir a única ação que garante a segurança.
Simplificação Radical (A Analogia Central):
Pense em uma fruta deliciosa, mas cujo caroço é extremamente venenoso. Você pode lavar a fruta, cozinhá-la, pescá-la da árvore ou criá-la em uma estufa, mas nada disso vai remover o veneno do caroço. Qual é a única regra de ouro para comer essa fruta em segurança? Não danificar ou ingerir o caroço. O verdadeiro desafio aqui é entender que o perigo não está no “peixe” como um todo, mas em uma “parte específica” dele, e que nosso plano de segurança deve se concentrar em isolar essa parte.
Plano de Ataque (O Roteiro da Investigação):
Nossa investigação seguirá o rastro da toxina:
- Localizar o Perigo: Identificar, com base no texto, exatamente em quais partes do baiacu a toxina está concentrada.
- Analisar a “Arma”: Compreender a propriedade-chave da toxina mencionada no texto (termoestável).
- Desenvolver um Protocolo de Segurança: Com base na localização e na propriedade da toxina, deduzir a única ação preventiva eficaz.
- Testar os Protocolos Sugeridos: Avaliar cada alternativa para ver se ela aborda o problema real.
PASSO 2 – DESVENDANDO AS FERRAMENTAS (A CAIXA DE FERRAMENTAS)
Para este caso, precisamos de um “Dossiê da Ameaça”, detalhando as características da tetrodotoxina, a vilã da nossa história, com base nas informações fornecidas.
Dossiê de Investigação: Tetrodotoxina (TTX)
- Tipo de Ameaça: Neurotoxina (ataca o sistema nervoso).
- Efeito: Bloqueia os canais de sódio nos neurônios, impedindo a comunicação nervosa, o que leva à paralisia (inclusive dos músculos respiratórios).
- Localização no Alvo (Baiacu): Altamente concentrada em órgãos específicos: gônadas (órgãos reprodutivos) e vísceras (fígado, intestinos, etc.). A carne (músculo) é geralmente segura, se não for contaminada.
- Propriedade Crítica: Termoestável. Este é um termo técnico que significa que a molécula não é destruída pelo calor.
Esta última propriedade é a chave para desarmar várias das alternativas incorretas.
PASSO 3 – INTERPRETAÇÃO GUIADA (MÃO NA MASSA)
Seguindo nosso plano:
- Localização: O perigo está nas “gônadas e vísceras”. O resto do peixe (o filé, que é o sashimi) é a parte desejada.
- Análise da Arma: A toxina é “termoestável”. Isso significa que cozinhar, fritar, assar ou qualquer outro processo que envolva calor NÃO VAI neutralizar o veneno.
- Protocolo de Segurança: Se o veneno está contido em “bolsas” internas (os órgãos) e não pode ser destruído pelo calor, a única estratégia segura é a remoção cirúrgica e perfeita dessas “bolsas” sem que elas se rompam e vazem, contaminando a carne.
🚨 ARMADILHA CLÁSSICA! 🚨
A armadilha mais sedutora aqui é a alternativa (C) “Consumir peixes cozidos ou fritos”. Nossa intuição cultural associa o cozimento à segurança alimentar, pois ele mata bactérias e parasitas. No entanto, estamos lidando com uma toxina química, não com um micro-organismo. A palavra “termoestável” foi colocada no texto exatamente para desarmar essa intuição. Ignorar essa palavra leva diretamente ao erro.
A Bússola (O Perfil do Culpado):
- Síntese do raciocínio: A segurança no consumo do baiacu depende de um procedimento mecânico preciso (a evisceração cuidadosa), pois o perigo é localizado e quimicamente resistente ao calor.
- Expectativa: A alternativa correta deve descrever uma ação de manuseio físico do peixe que impeça a contaminação da carne pela toxina presente nos órgãos.
PASSO 4 – ALTERNATIVAS COMENTADAS (A AUTÓPSIA)
- A) Criar os peixes em cativeiro.
- O “Diagnóstico do Erro”: Fuga ao Tema. Em alguns animais (como o sapo-ponta-de-flecha), a toxicidade vem da dieta. No baiacu, a toxina é frequentemente produzida por bactérias simbiontes e acumulada pelo peixe. A criação em cativeiro poderia levar a peixes não tóxicos, mas o texto não fornece essa informação, e o método de prevenção mais direto e universal é o preparo correto, independentemente da origem do peixe.
- Conclusão: ❌ Alternativa incorreta.
- B) Realizar a pesca com redes.
- O “Diagnóstico do Erro”: Fuga ao Tema. O método de captura do peixe (rede, anzol, etc.) é completamente irrelevante para a concentração de toxina em seus órgãos internos.
- Conclusão: ❌ Alternativa incorreta.
- C) Consumir peixes cozidos ou fritos.
- O “Diagnóstico do Erro”: Contradição Direta com as Evidências. Esta é a principal armadilha. O texto afirma que a toxina é termoestável, o que significa que o calor do cozimento ou da fritura não a destrói. Se a carne estiver contaminada, ela permanecerá venenosa mesmo depois de cozida. Esta ação gera uma falsa sensação de segurança e seria fatal na prática.
- Conclusão: ❌ Alternativa incorreta.
- D) Preparar o peixe em condições adequadas de higiene.
- O “Diagnóstico do Erro”: Reducionismo. “Higiene” geralmente se refere a evitar contaminação por micro-organismos (bactérias, vírus). Embora importante, a higiene não impede a contaminação cruzada por uma toxina química se os órgãos venenosos forem rompidos. A ação necessária é muito mais específica do que a simples “higiene”.
- Conclusão: ❌ Alternativa incorreta.
- E) Manusear o peixe sem provocar o rompimento dos órgãos internos.
- Análise de Correspondência: Esta alternativa descreve com precisão cirúrgica o protocolo de segurança deduzido em nosso passo 3. Ela aborda diretamente o problema: o veneno está localizado. A solução é isolar e remover a fonte do veneno sem espalhá-la. É por isso que apenas chefs altamente treinados e licenciados podem preparar o baiacu no Japão.
- Conclusão: ✔️ Alternativa correta.
PASSO 5 – O GRAND FINALE (APRENDIZAGEM EXPANDIDA)
- Frase de Fechamento: A resposta correta é manusear o peixe sem provocar o rompimento dos órgãos internos, pois a toxicidade do baiacu é um problema de contaminação mecânica, não de contaminação microbiológica ou que possa ser resolvida por calor.
- Resumo-flash (A Imagem Mental): Com o baiacu, o chef não é um cozinheiro, é um cirurgião.
- 🧠 Para ir Além (A Ponte para o Futuro): O mesmo princípio de “perigo localizado e resistente” se aplica à gestão de resíduos nucleares. O material radioativo (a “toxina”) está contido dentro das varetas de combustível usado. Ele não pode ser “desativado” por processos químicos ou térmicos simples. A única estratégia de segurança é o manuseio e contenção mecânica: remover cuidadosamente as varetas do reator e armazená-las em invólucros ultra-resistentes (como cascos de aço e concreto) para garantir que a radiação (“o veneno”) nunca “vaze” e contamine o ambiente. A lógica de isolar um perigo que não pode ser neutralizado é a mesma, da cozinha de um mestre de sushi à usina nuclear.
